A BNCC se aplica a toda a comunidade escolar: gestores, professores, pais e, claro, alunos. Depois de termos percorrido toda a cadeia do conhecimento, chegamos à ponta: qual é o aluno ideal da Base Nacional Comum Curricular?
A nova BNCC construiu um aluno ideal que deve ser, ao final do ensino básico, ético, crítico, curioso, flexível e humano.
A ética e a criticidade caminham juntas e é difícil separá-las. Logo, o que é um aluno ao mesmo tempo ético e crítico? Aquele que é capaz de “valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva” (BNCC). Logo, o conhecimento não deve ser fragmentado, pois a realidade à qual ele se aplica é uma só. Além disso, esse conhecimento deve fornecer ao aluno criticidade necessária para compreender o seu tempo e espaço, e ética para não fechar os olhos para os problemas sociais, mesmo quando esses estão distantes.
Se pensamos em criticidade, o aluno ideal é aquele que lê e compreende, não se deixa enganar por notícias falaciosas ou tendenciosas e argumenta com propriedade, mas nunca com autoridade: é necessário que a polaridade que vivemos atualmente na sociedade seja desconstruída por meio do diálogo e da aceitação.
Quando a gente fala em continuar sempre aprendendo, com plena noção de que o conhecimento é infinito, penso que é necessário ter curiosidade intelectual, que permitirá não apenas que a pesquisa sobre as coisas do mundo continue sempre, mas que, também, o aluno possa usar seu domínio das ciências para resolver os problemas que o mundo lhe apresenta, de “por que a chuva cai?” a “por que o salário do meu pai tem esses descontos?” ou “por que a porcentagem de negros nas universidades é baixa?”. Essa curiosidade de aprendizado conduziria o aluno à autonomia de pensamento e de reflexão.
Agora, o que eu quis dizer com flexibilidade? Bem, um aluno que tem domínio das ciências, tomemos como exemplo a linguagem, é aquele que transita pelas variedades linguísticas e pela norma culta com facilidade, adequando seu discurso a cada espaço e interlocutor. Ademais, ele precisa ter consciência de que a linguagem não é apenas aquela escrita ou falada, mas que consiste também na sonora, visual e visual-motora, como no caso da LIBRAS. Nesse espaço em que vivemos, vale ressaltar: é necessário também saber transitar pelos meios tecnológicos. Nesse contexto, o discurso é importante, assim como o são a criticidade na hora de usar as ferramentas de comunicação. Por fim, dado que cada sentença ou modo se comunicar expressa uma visão de mundo, estas devem ser respeitadas, bem como as manifestações artísticas oriundas de cada forma de perceber o mundo e se expressar diante dele. As culturas não são, afinal, rigidamente separadas, e o contato com aquelas diferentes da nossa pode promover enriquecimento pessoal àqueles que souberem se abrir à experiência – e essa é, também, uma meta da nova BNCC.
A dimensão humana já foi abordada na empatia, no entendimento do outro e no diálogo, no lugar do silenciamento. Para isso, as capacidades emocionais e sociais precisam ter lugar na escola, que sempre foi e será um meio de socialização, em que o indivíduo entende quem é o outro e a como agir diante dele. Porém, há ainda uma outra grandeza própria do homem que não se pode ignorar: a artística. Nesse aspecto, é próprio do aluno devidamente formado, de acordo com a BNCC, que ele seja capaz de se expressar artisticamente, quando a linguagem objetiva não for suficiente.
A curiosidade, aliada à ética, à criticidade, à humanidade e à capacidade de expressão artística permitirão ao aluno fazer escolhas profissionais seguras, expressar seus sentimentos e exercer a sua cidadania de modo consciente e responsável sem, contudo, perder sua autonomia e liberdade. O aluno ideal sabe qual é o seu lugar na sociedade, mas também consegue transitar entre os segmentos desta; percebe o mundo e se expressa diante dele, bem como percebe e aceita as manifestações do próximo e tem o outro não como antagonista, mas como companheiro.
Alexandre Pinheiro Torres escreveu que um homem alienado é um homem roubado a si mesmo. Ao contrário, a meta da nova BNCC é fazer com que os alunos não sejam jamais tirados deles mesmos, pelo único meio possível: a educação.