Entre as diversas facetas que podem carregar algum tom amedrontador ou desafiador no momento de elaborar uma redação da Fuvest a autoria seria certamente uma delas. Por isso vamos inserir a seguir algumas reflexões pontuais a respeito dessa característica tão importante para a produção dos textos dessa grade.
Na composição da redação da Fuvest sabemos que o desenvolvimento do posicionamento do candidato é avaliado no Aspecto 1 da grade de correção e, conforme vimos em posts anteriores, é nesta categoria avaliativa que a Fuvest coloca mais peso. Ou seja, é justificável darmos uma atenção especial para esse aspecto que irá compor a nota final de modo significativo.
Inicialmente, para construir um texto dissertativo-argumentativo, é sempre válido lembrar nossos alunos de que parágrafos meramente expositivos devem ser evitados, uma vez que, assim como consta no nome dado ao gênero em questão, é esperado encontrar nessas produções o foco na argumentação: o explorar de um ponto de vista de forma coerente, consistente e bem justificada. Parágrafos que apenas expõem fatos não deixam espaço para o desenvolvimento das ideias no interior da produção textual, no entanto, muitos alunos por vezes apresentam dificuldades em se colocar no texto e acabam “caindo” nos parágrafos expositivos.
A argumentação, por sua vez, além de exigir do candidato a inserção no texto deverá ser acompanhada, especialmente aqui na grade da Fuvest, da capacidade de articular o conhecimento de mundo de quem escreve com as possíveis leituras da temática. E é neste “estar no texto” que podemos identificar a característica da autoria.
A autoria na Fuvest se coloca, então, como aspecto essencial porque, por meio dela, a banca avaliadora reconhece o sujeito no texto, como se, ao adentrar o trajeto de produção textual, ao candidato fosse questionado:
Quem é você?
O que você carrega de bagagem?
Como seu conhecimento e sua voz se materializarão no texto?
Estas perguntas podem nos direcionar para um caminho que leve à autoria, uma vez que a banca avaliadora pretende ver um sujeito inscrito na redação, uma voz dentro do texto. Devido a essa necessidade, é também fundamental comentar que os formatos prontos de redação serão mal sucedidos nessa grade (como ocorre no ENEM), pois é esperado que a análise crítica consiga fugir do senso comum e das limitações de fórmulas e citações prontas. As referências externas encontradas na composição do texto devem ser utilizadas de modo a justificar o seu uso e refletir um conhecimento do próprio candidato, algo que ele de fato tenha em sua bagagem, e não algo decorado para estar ali.
Dois outros pontos que devem ser levados em consideração na produção são o uso da coletânea e o perigo de lacunas argumentativas:
Com relação ao uso da coletânea, é esperado que o candidato seja capaz de manter possíveis diálogos com os textos motivadores, porém sem cópias e com demonstração clara de que pode ir para além da proposta. A presença dos textos da proposta deverá, então, servir como motivação para a discussão, mas não a única fonte de fundamentação da argumentação, pois, assim, o sujeito, tão importante para a autoria, não se faria presente no texto.
Já as lacunas que devem ser evitadas seriam os trechos em que o leitor (ou a banca avaliadora, no caso) precisa preencher para o sentido se fazer completo, pois a redação não fornece explicações suficientes. Para treinar a escrita sem lacunas é preciso lembrar que nada é “dado” ou “sabido”. É preciso expor o ponto de vista de modo que o texto seja autossuficiente para o sentido ser passado com clareza, como se as ideias fossem diversas peças e nosso objetivo fosse fazer com que todas as peças se encaixassem.
Por fim, torna-se essencial ressaltarmos que a autoria não é um recorte do texto, um trecho ou uma citação, ela é o texto como um todo. Ela se mostra na totalidade da composição da redação.
Vamos continuar as reflexões sobre a redação da Fuvest nos próximos posts, portanto não deixe de acompanhar o blog!
Acelera, prof!