Tendo em vista que já exploramos diversos aspectos sobre a grade da Fuvest (aspectos gerais, diferenças com o ENEM,argumentação e autoria), faz-se necessário observar também como as questões discutidas até então se combinam no resultado final de uma redação nota máxima. O foco do post de hoje, deste modo, volta-se para algumas considerações a partir da leitura de um texto que compôs uma relação das melhores redações de 2012, conforme divulgado e compartilhado pela própria Fuvest.
Abaixo inserimos os links para proposta e a redação:
A proposta de redação da Fuvest de 2012 teve como tema “Participação política: indispensável ou superada?” e apresenta uma coletânea de 5 textos: uma citação de Aristóteles (texto 1), um excerto de um livro de Cortella e Ribeiro (texto 2), um recorte de um poema de Szymborska (texto 3), um trecho de uma obra de Bauman (texto 4) e uma tirinha retirada da Folha de São Paulo (texto 5).
Ao observamos a redação “A política como base às ações humanas” é possível identificar diversas questões que comentamos em posts anteriores sobre as produções de grade Fuvest (confere lá).
O título, neste caso, já se apresenta como posicionamento, pois insere política como base às ações humanas. Somente a leitura deste, até então, já cria na banca avaliadora uma ideia do que será debatido a seguir e provoca uma expectativa com relação ao modo como o título será justificado ao longo do texto.
Ao iniciarmos a leitura da introdução, o texto nos fornece alguns pontos que serão norteadores da produção como um todo: a constatação de que as práticas políticas sofrem mudanças com o tempo, a lógica capitalista como ambientação dessas configurações políticas e a não possibilidade de separação do homem de seu aspecto político. Esse parágrafo inicial já contém, portanto, o posicionamento e a essência de toda a discussão que se desdobrará a seguir.
Os dois parágrafos de desenvolvimento tanto recuperam as afirmações indicadas na introdução como aprofundam e exploram as justificativas para a tese. O primeiro parágrafo de argumentação discorre sobre o que o texto compreende por “política” e “participação política”, uma vez que coloca a política como parte indissociável do sujeito. O que “é a política”, neste caso, não se limita ao que está relacionado com figuras políticas ou um lugar específico em que esses “seres da política” exclusivamente existem. A participação política, assim, faz-se presente nas mais diversas esferas de atividade, até nas aparentemente triviais e cotidianas.
O segundo parágrafo de desenvolvimento, assim como o final do primeiro, tem como foco o universo capitalista no qual estamos inseridos e como, por consequência (reafirmando o que já fora indicado desde a introdução) o campo de atuação política se modifica. Ou seja, o poder político se relaciona com as grandes corporações, fruto do capitalismo, de modo a reclassificar o que é ou não político. Neste parágrafo também, assim como no anterior, a redação mobiliza diversas referências externas de forma relevante para a discussão. Ainda que o candidato faça uso de um trecho do texto 1 da coletânea, é nítido o uso produtivo do conhecimento de mundo que ultrapassa o que foi dado na proposta, demonstrando, assim, a capacidade do autor/autora de articular sua própria voz de forma coerente e relevante no interior do texto.
A conclusão, por sua vez, culmina numa síntese que reitera o caráter de circularidade na trajetória do texto dissertativo-argumentativo. Esse movimento importante se mostra na recuperação da tese e dos pontos essenciais que foram explorados nos parágrafos anteriores, possibilitando um fechamento ideal para a construção da redação.
É importante ressaltarmos, por fim, que a leitura de textos nota máxima da grade Fuvest não tem aqui o objetivo de destacar regras ou características fixas que devam aparecer em toda redação a fim de se alcançar a nota máxima, mas sim salientar os pontos que, de forma expressiva, posicionam o texto em questão entre os melhores daquele ano.
Daremos continuidade aos posts sobre a Fuvest na semana que vem. Acompanhem com a gente!
Acelera, prof!