Argumentar é sustentar uma ideia previamente apresentada. A tese é o eixo de uma boa redação, e neste post você encontrará ótimas dicas de como deixar isso claro para seus alunos. Vamos lá?
No post anterior, discutimos a leitura do tema e da coletânea de uma redação modelo UNESP. Agora, vamos conversar sobre o critério B? Ele está relacionado a dois aspectos que estão em confluência. Primeiro, a adequação ao gênero dissertativo argumentativo e, segundo, a argumentação. Para começar, vamos falar sobre o gênero dissertativo argumentativo!
Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.
É preciso avaliar, no que se refere a esse critério, se o aluno domina esse tipo textual. Quais são suas características? Inicialmente, uma dissertação (e não poema, conto, crônica, relato etc). Ademais, como o próprio nome diz, é preciso defender uma tese com base em argumentos obedecendo a esse modelo com três partes obrigatórias divididas em parágrafos: introdução, desenvolvimento e conclusão. De início, vamos ver como deve ser a introdução?
Introdução:
O texto dissertativo argumentativo precisa de uma tese, certo? Então, na hora da correção, é muito importante identificar qual ela é, mas muitas vezes temos dúvidas sobre como fazer isso, então, vamos lá:
Como identificar a tese em uma redação?
Na redação modelo Unesp, geralmente a tese está explícita no texto desde a introdução (há exceções, mas falaremos disso em outro post). Então, vamos procurá-la, à partida, no primeiro parágrafo do texto. A missão, logo, é encontrar o que o candidato pretende argumentar, qual é a opinião dele sobre o assunto. Essa busca pode gerar dúvidas na hora da correção, visto que nem sempre a tese está clara. Então, vamos ver na prática:
“Há algum tempo, a revista “Esquire” publicou um artigo no qual o autor, que nunca havia fumado, descreve as experiências decorrentes de se propor a fumar um maço de cigarros ao dia, durante um mês. Ao longo da trajetória do desafio, o homem reflete sobre o tabagismo e suas consequências enquanto fenômeno social, na medida em que tenta reproduzir o ato de fumar como se já estivesse há muito habituado a ele. Nessa tentativa, o “novo fumante” busca ocupar os mesmos espaços utilizados por tabagistas de longa data, e nota que, na atualidade, fumar é fazer parte de um clube restrito composto por praticantes de um vício que estão constantemente sob os olhares de desprezo e desaprovação lançados por não-fumantes. Essa situação inerentemente adaptada se repetirá em um futuro pouco distante com aqueles que continuarem a usar carros para se locomoverem.”
Nessa introdução, o candidato faz uma longa contextualização do tema e, no final do parágrafo, afirma que sim, o carro será o novo cigarro. Essa estratégia é muito importante, pois a inserção do contexto “atrai” a tese, que não é inserida bruscamente, do nada.
Atenção! É sempre interessante dar essa dica aos alunos: é preciso contextualizar o tema! Pode-se frisar que, se eles não têm repertórios socioculturais de fora da coletânea, podem usar a leitura (nunca a cópia, por favor!) de um/alguns texto(s) motivador(es) para “preparar o terreno” para a chegada da tese. Usando repertório próprio ou da coletânea, o aluno passa a mensagem clara para o corretor: “entendi a proposta da redação”. O repertório sociocultural não é obrigatório para a prova da Unesp e a presença dele não aumenta a nota, de modo que pode ser muito mais inteligente usar os repertórios da coletânea (já, obviamente, muito bem relacionados à temática), do que inserir um “filósofo-coringa” que não tem nada a ver com o assunto e ter que fazer uma ginástica argumentativa para ligá-lo à proposta e perder pontos na argumentação. Mais do que escrever bem, é preciso pensar na estratégia!
Por outro lado, embora a tese geralmente esteja explícita na introdução, há casos em que isso não acontece. Vamos ver um exemplo de introdução de redação cujo tema é “A cultura do cancelamento veio para ficar?”:
“‘Cancelar’ no dicionário significa ‘eliminar ou riscar para tornar sem efeito’. Esse é o principal objetivo da cultura de cancelamento. Após o movimento #MeToo, em 2017, no Twitter ter ganhado força, dezenas de mulheres passaram a relatar os casos de assédio por Hollywood, expondo artistas e figuras públicas, cancelamentos passaram a ser rotineiros. Em 2019, o termo foi considerado o de maior destaque por meio do dicionário Macquire”.
Nota-se que o candidato começou o texto com tudo: trouxe um verbete importante para explicar o que é “cancelamento” e um fato da atualidade. Porém, cadê a tese? Não se encontra a resposta para “a cultura do cancelamento veio para ficar ou é passageira?”.
Isso não quer dizer que, no decorrer do texto, a tese não fique clara, mas é preciso se lembrar de que a ausência dela na introdução pode culminar em penalização nesse critério, já que o candidato pode se perder sem a introdução-guia da redação. Além disso, não podemos deixar os alunos perderem de vista que, na introdução, as palavras-chave já precisam estar colocadas, e que, além disso, a tese deve estar relacionada à discussão proposta.
Se a tese não estiver na introdução, pode estar no decorrer e texto e vamos continuar procurando nos posts posteriores! Porém, o que eu sempre digo é: a introdução é o spoiler do texto e é a partir dela que será organizada toda a argumentação. Logo, esse planejamento, se estiver perfeito desde o começo, com todos os elementos bem interligados e uma tese bem construída, favorecerá uma argumentação coerente e sem falhas. Caso não esteja, sem norte, a confusão na argumentação é um grande risco.
Apresentado o tema, ele precisa ter um bom desenvolvimento para deixar claro o posicionamento do texto, né? Acompanhe o próximo post, em que discutiremos os parágrafos de argumentação, para dicas sobre como deixar isso evidente para seus alunos!