O tema da redação Enem 2023 foi Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.
Como sempre, o Enem nos pegou de surpresa com esse tema, que, porém, é muito atual e necessário!
Mesmo que não estivéssemos esperando essa frase temática, ela não é um bicho de sete cabeças! Para mostrar isso, a Pontue propõe uma análise do tema e da coletânea. Continue lendo! 👇🏻
1. O tema Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil:
O tema não está perguntando se existe ou não invisibilidade no trabalho de cuidado realizado pela mulher; ele está afirmando: sim, ele é invisível.
Logo, ao invés de centrar a discussão na existência disso, mais estratégico é responder ao que o tema está de fato perguntando:
❓ Por que esse trabalho de cuidado é invisibilizado?
❓ Quais os desafios para o enfrentamento dessa questão?
❓ Por que eles existem na nossa sociedade?
2. Análise da coletânea:
💡 Texto I
O trabalho de cuidado é essencial para nossas sociedades e para a economia. Ele inclui o trabalho de cuidar de crianças, idosos e pessoas com doenças e deficiências físicas e mentais, bem como o trabalho doméstico diário que inclui cozinhar, limpar, lavar, consertar coisas e buscar água e lenha.32 Se ninguém investisse tempo, esforços e recursos nessas tarefas diárias essenciais, comunidades, locais de trabalho e economias inteiras ficariam estagnadas. Em todo o mundo, o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago é desproporcionalmente assumido por mulheres e meninas em situação de pobreza, especialmente por aquelas que pertencem a grupos que, além da discriminação de gênero, sofrem preconceito em decorrência de sua raça, etnia, nacionalidade, sexualidade e casta. As mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado e compõem dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas.
🔎 O que precisamos reter desse texto?
O texto I explica o que é trabalho de cuidado: “[…] cuidar de crianças, idosos e pessoas com deficiências físicas e mentais, bem como o trabalho doméstico diário que inclui cozinhar, limpar, lavar, consertar coisas e buscar água e lenha.”
O texto também reforça que, atenção:
1) Esse trabalho é fundamental para a economia;
2) Ele é atribuído majoritariamente às mulheres, sobretudo as em situação de fragilidade socioeconômica;
3) Ele é mal remunerado ou não tem remuneração alguma.
💡 Texto II
🔎 O que precisamos reter desse texto?
Esses dados deixam explícita a diferença de tempo gasto por homens e mulheres em atividades de cuidado: elas dedicam quase o dobro a mais de tempo a esse trabalho.
💡 Texto III
A sociedade brasileira tem passado por inúmeras transformações sociais ao longo das últimas décadas. Entre elas, as percepções sociais a respeito dos valores e convenções de gênero e a forma como mulheres têm se inserido na sociedade estão, indiscutivelmente, no seio destas mudanças. Algumas permanências, porém, chamam atenção, como a delegação quase que exclusiva às famílias e, nestas, às mulheres, de atividades relacionadas à reprodução da vida e da sociedade, usualmente nominadas trabalho de cuidados.
🔎 O que precisamos reter desse texto?
Aqui é discutido que, embora tenham ocorrido mudanças sociais que envolvem as mulheres, o trabalho de cuidado ainda é dedicado majoritariamente a elas.
💡 Texto IV
🔎 O que precisamos reter desse texto?
As pessoas têm vivido mais e, por isso, demandado mais cuidado. Esse cuidado no Brasil é, na maior parte das vezes, familiar, isto é: não é tão comum recorrer a cuidadores, babás ou casas de repouso, por exemplo.
Grosso modo, é mais trabalho de cuidado, logo, para a parcela feminina da sociedade. Portento, sem assistência, remuneração e partilha de tarefas, as mulheres ficarão cada vez mais sobrecarregadas.
E aí, como usar tudo isso em um projeto de texto estratégico?
Vamos partir do seguinte: de acordo com o texto I, mesmo que o trabalho de cuidado seja vital para a economia, ele é mal ou não remunerado. Incoerente, não é? Daqui, já podemos tirar o primeiro desafio.
DESAFIO 1:
Pela falta de valorização financeira, ninguém quer fazê-lo, e ele acaba sendo forçado nas minorias sociais. No caso, nas mulheres, especialmente as que acumulam outros traços de minorias: pobres, pretas e imigrantes.
Assim, na dificuldade de contratar cuidadores ou babás (como informa o texto IV), elas acabam sendo obrigadas a ocupar essas funções, mesmo que estejam no mercado de trabalho também (texto III).
A consequência disso é que, sem visibilidade, esse trabalho não será remunerado de forma justa nem dividido igualmente entre homens e mulheres.
Analisando os textos motivadores e usando a nossa enciclopédia privada, é possível chegar a vários outros desafios que atravancam o enfrentamento dessa invisibilidade. Veja mais 2 exemplos:
DESAFIO 2:
Por ser feito dentro de casa, que é nosso espaço de descanso, esse trabalho não é reconhecido como tal, e sim visto como uma função simples e menor. Assim, ele não merece boa remuneração nem precisa de divisão igualitária entre os membros da família.
Isso sobrecarrega, cada vez mais, as mulheres, sobretudo as que têm outros empregos.
DESAFIO 3:
Devido ao machismo estrutural, a sociedade ainda vê as tarefas de cuidado como inerentes às mulheres, que são as responsáveis pela casa e tudo que ocorre dentro dela. Logo, mesmo sem ou com pouca remuneração, elas são forçadas a fazê-lo pelos opressores contratos sociais.
Essa cultura acaba fazendo com que as próprias mulheres não combatam o problema, exigindo divisão de tarefas ou melhores pagamentos, porque, para elas, assim como para os homens, ele está naturalizado.
Você achou esse tema difícil? Quais desafios enxerga para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher? 🧐📣