Devemos nos lembrar de algo fundamental nas aulas e correções de redações: estamos dando aulas para os alunos, não para nós. Isso significa que devemos deixar claros os passos que eles devem seguir para construir a redação.
Um processo difícil nesse percurso, mas essencial para um bom trabalho, é não superestimarmos os alunos, ou seja, compreender que existem níveis de aprendizado diferentes, e que um discurso mais complexo pode deixar muitos para trás.
Vamos analisar critérios importantes que devem ser identificados na correção para as 5 do ENEM?
Correção ENEM: COMPETÊNCIA I – DEMONSTRAR DOMÍNIO DA NORMA CULTA DA LÍNGUA ESCRITA.
A primeira competência cobrada é o domínio da gramática e estética textual. O candidato deve conhecer o uso da norma padrão da língua portuguesa e suas aplicações. Será cobrado o conhecimento sobre todas as regras gramaticais, levando em consideração critérios relacionados à ortografia, regência, concordância e semântica.
O que será avaliado?
- Diferença entre modalidade oral e escrita;
- Atenção à ortografia e às regras gramaticais;
- Estética geral do texto e o respeito ao número de linhas;
- Ausência de marcas da oralidade;
- Precisão vocabular;
- Colocação das letras maiúsculas e minúsculas;
- Divisão silábica na mudança de linha (translineação).
Muitos alunos usam palavras que não são do domínio deles, sequer dos professores (jargões e palavras eruditas que não fazem parte do universo linguístico do aluno). Essa estratégia prejudica o projeto de texto, pois soa artificial o uso de palavras que, claramente, foram memorizadas. Quando essas palavras eruditas estão acompanhadas de desvios graves gramaticais, o problema é ainda maior.
SUGESTÃO: reforçar, nas aulas e correções, que os alunos devem usar palavras que eles dominam, para que o texto seja autoral e não haja penalização no projeto de texto.
Maria Thereza Fraga Rocco, coordenadora da banca de redação da FUVEST, fala algo importante sobre o uso de vocabulário pelos alunos:
O que o vestibulando deve ter em mente para escrever um bom texto?
“A coerência, a coesão, o uso adequado de conectivos. Mas há um ponto muito importante: o conceito de autoria – quando se pode perceber que determinado texto foi de fato escrito por aquele candidato. Não nos interessa se a opinião é politicamente correta. As boas redações são aquelas que obedecem ao discurso dissertativo – que têm começo, meio e fim – e são fruto da independência do pensamento de cada um. Ficamos exaustos de ver a “camisa-de-força” enfiada nos jovens pela escola ou pelos cursos preparatórios.
Muitos alunos escrevem numa estrutura engessada de cinco ou seis parágrafos: começam com um “desde a Antiguidade”; no segundo parágrafo usam “por um lado”; no terceiro, “no entanto”; no quarto, “por outro lado”; no quinto, “é preciso, porém, considerar”; e, no sexto, “em resumo”. Formalmente, a estrutura é corretinha. Mas o que se vê? Que os conectivos nada têm a ver com o restante do parágrafo.
Outra coisa que não se deve fazer: tentar mostrar erudição a qualquer custo. É comum vermos coisas do tipo: “como diz o grande poeta latino” ou “como escreveu Sócrates”… são chiques! Mas, ora, Sócrates não escreveu nada! O pior é que todo ano encontramos as mesmas citações. Sinal de que os alunos foram treinados para citar. O candidato deve citar, sim, mas com competência, sabendo o que está fazendo.”