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Redação modelo da Pontue para o tema Enem 2023: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

Confira a redação modelo da Pontue para o tema Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil:

 

Em “Domésticas”, documentário de Gabriel Mascaro, o espectador conhece Sérgio, um homem que é “funcionário doméstico” em uma casa de família. Esse caso destoa da realidade, em que o trabalho de cuidado é majoritariamente destinado às mulheres. A não equiparação do trabalho de cuidado entre os gêneros, na sociedade brasileira, tem origem e manutenção no machismo estrutural, o que faz com que essa função, embora seja fundamental para a manutenção das famílias, não tenha visibilidade.

O patriarcalismo, mantido pelo machismo estrutural, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Dessa forma, nossa sociedade nunca conheceu outra realidade e, com o tempo, naturalizou que atividades atribuídas a homens devem ser valorizadas, em detrimento daquelas consideradas femininas. Nesta categoria, está incluído o trabalho de cuidado: limpar, lavar, cozinhar e, claro, cuidar. Consequentemente, a divisão de tarefas é mínima nos lares brasileiros, visto que não cabe aos homens, nos contratos sociais, participar dessas funções. Logo, as próprias mulheres, sobrecarregadas, absorvem essa cultura e aceitam a responsabilidade desses trabalhos de cuidado, ao invés de pressionar a sociedade para que haja mudanças.

Outra realidade é o fato de que a maior parte das pessoas empregadas domésticas, babás e cuidadoras são mulheres e, uma vez que o trabalho de cuidado não tem visibilidade, tampouco tem valorização salarial. Dessa forma, a remuneração, nesses casos, é insuficiente, o que contribui para que as mulheres nesse segmento do mercado de trabalho não consigam ascender socialmente e tenham que trabalhar por jornadas muito longas para ganhar uma módica quantia. Então, os desafios para a visibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil estão calcados no machismo estrutural, são derivados dele: a pouca ou nenhuma partilha de tarefas em casa e a má remuneração quando ele é realizado fora do lar. Em contrapartida, mesmo que haja esses problemas, eles, por serem invisíveis, não recebem a devida atenção governamental.

Assim, compreendendo ser difícil eliminar o machismo estrutural da sociedade, cabe ao governo tomar ações de curto prazo, por ora. Portanto, é necessário que o Estado crie creches, centros de convivência e casas de repouso populares. Isso deve ser feito por meio do aproveitamento de espaços vazios nas cidades, que podem ser ocupados para esses fins. O objetivo é reduzir o volume de pessoas dependentes das mulheres em seus lares. Ao mesmo tempo, o Ministério da Educação deve incluir, nas grades curriculares, disciplinas focadas no trabalho de cuidado, a fim de estimular a partilha de tarefas e a visibilidade dessas funções. Com a realização dessas ações, em conjunto, as mulheres estarão menos presas ao trabalho de cuidado no Brasil.

 

Breve análise da redação:

Nesse texto, usei a tese de que o trabalho de cuidado é majoritariamente destinado às mulheres por conta do machismo estrutural.

No primeiro parágrafo de desenvolvimento, abordei a questão de que o machismo estrutural, para manter o patriarcalismo, valoriza as atividades consideradas masculinas e rebaixa as vistas como femininas. A consequência é que os homens se afastam dos trabalhos de cuidado, atribuídos as mulheres, e que as próprias mulheres, pelo fato de o patriarcalismo ser cultural, assumirem com naturalidade a responsabilidade por essas tarefas, ao invés de exigirem mudanças. O resultado é que elas estão sobrecarregadas e sem poderem recorrer à família.

Já no segundo parágrafo de argumentação, desenvolvi outro desdobramento do machismo estrutural, que é a má remuneração pelos trabalhos de cuidado exercidos pela mulher fora de casa (como cuidadora, babá e empregada doméstica). O desdobramento é que, devido ao salário insuficiente, as mulheres cumprem longas jornadas para complementar a renda e têm a ascensão social dificultada. Em contrapartida, o governo não propõe medidas para resolver o problema, logo, as mulheres também não podem recorrer ao Estado.

Tendo em vista os argumentos, a proposta de intervenção propõe tanto reduzir a quantidade de pessoas dependentes das mulheres nos lares brasileiros quanto motivar o sexo masculino a tomar parte no trabalho de cuidado. Propor acabar com o machismo estrutural por meio de algumas ações do Estado pareceria incoerente, uma vez que foi defendido, no decorrer de todo o texto, que se trata de uma complexa questão cultural naturalizada no país e que demanda, portanto, muitas ações a longo prazo.

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